Uma conversa difícil pode ser algo pequeno, como pedir ao pintor não fumar dentro da sua casa, dialogar com o vizinho que instalou um novo alarme que sempre dispara na hora que ele sai para uma noite de diversão e que transforma a sua noite em um pesadelo, pode ser algo no trabalho, como pedir um aumento ou discordar de um feedback negativo que você recebeu de seu chefe recentemente. Ainda, pode se tratar de problemas familiares “fantasmas”, que sempre existiram e nunca foram resolvidos ou discutidos por anos, e agora estão de volta assombrando nossas vidas.
A verdade é que as conversas difíceis fazem parte da vida e todo mundo já viveu muitas e ainda viverá outras… Portanto, é urgentemente necessário aprender a como se sair bem ao abordar esses assuntos delicados. Como obter resultados positivos nesses casos?
Não há caminho fácil para lidar com este tipo de conversa, já ouvimos muitos especialistas e “especialistas” ensinando técnicas infalíveis para contornar conversas difíceis e/ou conflitantes! Mas no fim das contas, quando você vai praticar o que aprendeu, o resultado não é, nem de longe, o esperado!
O livro CONVERSAS DIFÍCEIS - de Bruce Patton, Douglas Stone e Sheila Heen - descreve uma jornada, às vezes desconfortável e espinhosa, mas necessária, que temos de percorrer se quisermos obter frutos de conversas produtivas. Isso vale para conversas desafiadoras no trabalho, e para aquela conversa sobre sentimentos com seu familiar, da qual você provavelmente está se desvencilhando há algum tempo.
Um bom começo é tratar o outro como você gostaria de ser tratado. Neste caso, a outra pessoa certamente quer ser ouvida, e isso você pode fazer! Ouça a outra história, compare mentalmente com a sua história, e você terá a terceira história!
O livro discorre maravilhosamente sobre este tema, e aponta que são na verdade três histórias “escondidas”: a primeira conversa é sobre o que aconteceu (fatos) , a segunda conversa: os sentimentos, seus e da outra pessoa, e a terceira é sobre identidade.
Entenda que você não tem todos os fatos, logo, é inviável fazer julgamentos e suposições. E seu interlocutor também não tem. Portanto, é preciso que você consiga um jeito de ouvir o que ele pensa sobre o assunto, tente entender porque ele se sente assim, e, após ouvi-lo, ele provavelmente estará mais disposto a escutar você.
Ataque o problema, e não a pessoa.
Acompanhe o exemplo de João e Pedro que são amigos. Ambos também trabalham na mesma empresa, uma grande companhia, e atuam com suas equipes atendendo vários clientes em comum. Acontece que João está profundamente concentrado em terminar um projeto para um cliente, e a data de entrega é daqui a dois dias. Ele também prometeu passar a noite com sua esposa e suas filhas, para fazerem atividades juntos em família. O telefone toca, é o Pedro. Ele está aflito com um cliente onde as coisas não estão indo muito bem, e a diretoria quer mais detalhes em uma apresentação no dia seguinte, e ele não conseguiu terminar, precisa da ajuda de João para conseguir. João mal vê as palavras saírem de sua boca: “claro que vou ajudar!” Ao desligar o telefone, ele percebe que, para ajudar Pedro, ele terá de cancelar a noite em família, interromper os trabalhos a que está dedicado, e iniciar agora, estendendo seu horário de trabalho até tarde da noite. Logo pela manhã, João entrega o material. Faltam horas para a apresentação de Pedro. Ele avalia e simplesmente explode com João! Não está bom o suficiente! Faltam dados! O gráfico não está com as cores certas. João precisa corrigi-las urgentemente! E sai da sala, deixando João com um misto de emoções presas nos lábios: raiva e mágoa são as principais: Ele deixou de lado trabalho e família para ajudar Pedro com sua demanda, e não recebe nenhum “obrigado”, somente críticas com correções que o próprio Pedro poderia fazer, já que a apresentação é dele e você nem está na mesma equipe neste projeto.
Sim, é complexo e profundo. Mas se você puder ouvir a história da outra pessoa e entender os fatos do ponto de vista dela, ficará mais fácil separar os fatos e o problema-base, e colocá-lo em foco principal, fazendo com que, a partir dali, ambos foquem em resolver o problema juntos.
De conflito a uma conversa produtiva, é possível?
Já parou para refletir em uma coisa: Por que sempre achamos que o outro é totalmente culpado? Será que é por isso que, por mais que apresentamos argumentos razoáveis, eles não funcionam?
A outra pessoa também tem argumentos que fazem-na acreditar em sua versão da história. Talvez ambos os lados tenham informações que o outro desconhece e nossa interpretação dos fatos são influenciadas por nossas experiências e vivências. Como resolver a divergência?
No livro CONVERSAS DIFÍCEIS, os autores sugerem uma conversa-aprendizado. Mas do que se trata essa conversa? Vejamos por meio de um exemplo, de um casal em que o filho está tendo problemas na escola. Pedro acredita profundamente que Ana tem uma forte influência em tudo que está acontecendo, e que só ela não consegue ver isso.
Pedro- “Ana, vejo que você tem bastante certeza de que nosso filho agiu mal na escola sem ter sofrido nenhuma influência de nossa parte. Pode me ajudar a entender porque você pensa assim? Quero muito entendê-la!”
Pedro está indo além de suas palavras, tentando ouvir a história do outro lado. Só o fato de manter a conversa fluindo é algo relevante. Ana saber que será ouvida, fará com que ela escute a opinião de Pedro com mais receptividade.
Agora que ambos compartilharam suas histórias, é hora de conjurar uma história com a outra: para isso, é importante adotar a postura do “e”. Mas o que é isso? Postura do “e”? Voltando ao nosso exemplo.
Pedro -“Ana, eu entendi que você foi criada por pais que estavam constantemente brigando, e por isso resolveu no coração não ser uma mãe tóxica. Quero que saiba que não penso isso de você, de jeito algum. E expliquei a você, que me sinto angustiado quando nosso filho escuta as discussões que você tem ao telefone com sua mãe, e isso gera nele um misto de emoções com as quais temos de lidar. E parece que o mal comportamento dele na escola provém de palavras agressivas que iniciam brigas com os colegas. Talvez possamos nos unir para conversar com ele e tentar entender como ele se sente e como podemos ajudá-lo. O que você acha?
Ana -“Sim, eu acho que isso pode ajudar muito. Obrigada por me ouvir.”
Não é tão difícil quanto parece, não é? Uma conversa difícil se tornou uma conversa-aprendizado quando você uniu duas histórias com um “e” e apresentou a terceira história, e também propôs uma solução viável. Agora, vocês estão unidos, buscando uma solução em conjunto para beneficiar o filho. A conversa rendeu um outro benefício: trouxe à tona que Ana concorda que a mãe tem comportamentos que a prejudicaram no passado, e ainda agora, prejudicam a dinâmica de sua família com marido e filhos, cada vez que ocorre uma destas “brigas” ao telefone. Colocando as palavras na conversa, é muito provável que Ana comece a refletir sobre como lidar com a toxicidade das atitudes da mãe, e a pensar em limites que ela colocará deste momento em diante.
Vale a pena conferir o livro CONVERSAS DIFÍCEIS! Esta é uma super indicação para treinar e exercitar a sua musculatura emocional em casa, no trabalho ou na escola!
Boa leitura e sucesso em sua próxima conversa difícil!